Raposas entre os Refugiados

RAPOSAS ENTRE OS REFUGIADOS
A dor dos expatriados, o grito dos refugiados...
Multidões desvalidas
de minha poesia involuntária,
de um surrealismo escondido
na própria realidade,
que quase não consigo exprimir.
Ninguém os quer...
A fotografia suprime a inquietadora estranheza
de nossa ausência constante,
diante daqueles olhares desolados,
daquela torrente humana,
convulsiva, convulsiva...
carregando consigo os olhares angustiados
e a dor na alma,
de uma ilusão sem destino.
O oceano os engole em suas águas escuras,
gélidas e profundas,
enquanto que em terra tropeçam exaustos
entre os trilhos da existência humana,
que nos fere com um duro golpe na alma.
A estranheza alheia os consome,
cercados entre as teias que se tecem de arame farpado,
é o prenúncio de suas covas invisíveis.
São como uma revoada de pássaros famintos
e sem esperança,
prontos para caírem em laços
de um velho mundo novo,
e como um filme que se passa lentamente,
o olhar destes seres humanos esvaziados de si,
estão fitos em nós!
(Denise Costa)